Fechou as janelas do quarto.
Vestiu a velha sapatilha de ponta.
O incenso ainda queimava, apenas uma fresta aberta o suficiente pra ver a fumaça, o suficiente pra ver a respiração sumir.
A música começa, propícia a um ballet dramático, propícia ao sepultamento de uma parte dela mesma, enquanto o relógio continuava com seu contínuo "tic tac tic tac tic tac".
O relógio marcava o tempo daquela dança onde ela se entregava e morria um pouco mais a cada passo.
Seus pés, cansados, não paravam, seguiam as batidas do relógio e a cada nova badalada, um pouco menos de fôlego, um pouco mesmo de vida, um pouco mesmo de existência daquela pseudo bailarina, torta.
Então, a música acaba, com último toque do piano soando nos ouvidos, sentindo a dor por todo corpo, o relógio para e as batidas de seu coração também.
O incenso termina de queimar e a bailarina torta, cansada de dançar somente em seu quarto escuro, não levanta mais, a respiração cessou e por fim, após seu último suspiro, pisca pela última vez, e "vira hipótese".
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