domingo, 18 de novembro de 2012

Lonely Christmas

Era a pior época de todas, o maldito natal, novamente.
Como todo ano, sua vontade de morrer aumentava nessa época, independente da quantidade de problemas que lhe perturbassem, era sempre a mesma irritante coloração vermelha e brilhante das decorações, toda aquela falsidade natural da época natalina.

Será que as pessoas não enxergavam o quanto isso era inútil e totalmente criado para movimentar apenas DINHEIRO. Poderia dizer o que quisesse, ele pensara assim desde seus 15 anos, onde muitas coisas passariam a fazer mais sentido.

Carl Joseph, olhava pela sacada de sua cobertura, os fogos de natal, sozinho em seu apartamento, tomando uma taça de champagne. Era um famoso e rico empresário, dinheiro era o que não lhe faltava, apesar desse nunca ter sido seu maior objetivo de vida, não gostava de datas comemorativas. Afinal elas apenas serviam para ativar o consumismo exacerbado daquela população de classe média ascendente, onde não importava o quanto endividados estivessem, o 13º salário sempre os iludia, e mais uma vez, as compras de natal, presentes para a família toda, e não importava o quanto você odiasse aquela tia velha e gorda, que desde os seus 4 anos de idade abusa de você e aperta as suas bochechas obesas, sua mãe ainda lhe daria aquela blusa verde cor de merda horrorosa.

Uma pessoa um tanto contraditória, partindo da visão que eram exatamente essas datas que ajudavam a aumentar a imensa fortuna maldita da empresa herdada pelo pai, um alcoólatra já falecido.

Ele tentava, todo ano fugir do natal, essa maldição que começou a lhe perturbar quando ele tinha seus 15 anos, quando percebeu a tamanha falsidade e hipocrisia que cercava sua família nessa data tão, vil.
E não só você, como todos os parentes e amigos de Carl se perguntam até hoje o porque, e não é algo simples de se dizer, ou contar, é algo tão tenebroso que até hoje, com cerca de 30 anos, Carl evita lembrar o que essa data representa a ele.

O ano era 1997, ano em que seu irmão menor nasceria, se tudo o que ele viu não estivesse acontecido.

Era Dezembro, sua mãe estava grávida de uns 8 meses, Carl estava ansioso esperando seu irmãozinho, já tinha até escolhido o nome, seria David, sua mãe havia acabado de fazer todas as compras de natal e ele a ajudava a montar a grande árvore, divertia-se colocando as bolinhas coloridas espalhadas, sentindo o cheiro característico do Natal, não via a hora de vê-la pronta, com todas as luzes acesas, enquanto via sua mãe, acariciando a barriga, onde até David demonstrava estar animado, o bebê não parava de se mexer, Carl conversava com ele, enquanto a mãe sorria, vendo o amor que aquela criança teria, tinha certeza que Carl seria praticamente um pai para David.

Horas depois tudo estava pronto, eles haviam terminado de enfeitar a árvore com as luzes que Carl havia ajudado a escolher, a mãe estava na cozinha, cantarolando músicas natalinas enquanto fazia a ceia, esse ano a família estava um tanto quanto dispersa, após a morte de um dos tios, irmão mais velho de seu pai, portanto passariam apenas os 4 lá, talvez mais tarde os avós apareceriam para lhes entregar os presentes. Foi então que tudo começou, Carl admirava a árvore enquanto brincava com seu Nintendo 64, o pai chegara, já passava das 22h30, e ele havia bebido muito, de novo, exalava um cheiro forte de álcool e cigarro barato, a mãe estava preocupada e havia um medo visível em seus olhos, misturado com uma tristeza imensa, afinal ele não havia respeitado nem o natal esse ano. Apesar da mágoa, apenas disse: "Boa noite, o jantar será servido em breve."


Ele, nada respondeu, subiu para o quarto, faltando poucos minutos para a meia-noite, Carl e sua mãe já haviam arrumado a mesa, que estava farta, a mãe havia trocado as roupas e estava linda, com um vestidão azul bebê, com alças grossas e decote em "v", esperavam o pai para o jantar, quando ele desceu, pior do que chegara, certamente havia passado esse tempo todo com seu arsenal de vinhos, desceu gritando para os 4 cantos do mundo, esbravejando e amaldiçoando qualquer resquício de ar que estivesse em seu caminho, foi então que descobrimos, a empresa estava à beira da falência. A mãe como sempre, tentou acalmá-lo, em vão, o que recebeu foi um imenso empurrão, e jogando na frente de Carl, gritou para o garoto se esconder, e chamar alguém, em vão, os vizinhos estavam muito ocupados ceiando em paz, o telefone da avó não respondia e os fogos do lado de fora da casa, impediam que ouvissem os gritos.

O pai estava armado com um taco de hóquei e gritava o quanto odiava aquela criança que estava prestes a nascer, enquanto a mãe se arrastava e tentava proteger a barriga, em vão, o tombo havia sido forte demais e ela já estava sangrando, não contente, o pai ainda golpeava a barriga, Carl estava sem reação, ouvia os gritos ensurdecedores de dor da mãe e o pai amaldiçoando o irmão que ele já amava tanto, dizendo que a culpa da falência era daquela pequena criança, indefesa, que não havia nem nascido ainda. Foi quando ele viu sangue demais escorrendo para embaixo da mesa, onde ele se encontrava escondido, vendo apenas a árvore de natal derrubada no chão e as silhuetas de seu pai, com o taco de hóquei na mãe e sua mãe, agora morta, com sua barriga em pedaços.

Carl ouviu e viu as luzes de um carro, pela fresta da janela que sua visão tinha aceso, eram os avós, com toda certeza, não deu tempo de pensar, saiu correndo, o pai atrás dele, abraçou a avó e, chorando tento contar tudo, mas não precisava, eles já haviam visto o resultado de toda fúria alcoólica de seu pai, no momento em que ele abriu a porta e saiu correndo com o taco de hóquei na mão, pronto para fazer sua próxima vítima, ou para fugir. E, vendo seu filho e seus pais na sua frente, horrorizados com tudo aquilo, apenas fugiu, e se escondeu tão bem que descobrimos onde ele estava apenas quando morreu, quando resolveram incendiar alguns mendigos pela cidade e ele, o único que carregava uma foto de uma família consigo foi identificado.

E esse havia sido o natal da sua vida, onde seu presente do "Papai Noel" foi a morte da sua mãe e do seu irmão, que não havia nascido, pelas mãos de seu pai. E então ainda perguntavam, porque você não gosta de natal ou, porque não quer ter uma família.

Carl Joseph foi encontrado morto, no dia seguinte, caído em frente ao seu prédio, havia, como todo ano lembrado dessa data, mas dessa vez ele não teve como fugir dos efeitos de sua intolerância a ácool, uns dizem que ele se matou, outros, que desde o natal de 1997 ele já estava morto, viveu apenas para reerguer a empresa do pai, para dar uma estabilidade para a vida de seus funcionários e principalmente, dos sócios, um idoso de 60 anos, com sérios problemas de saúde que precisava de tratamentos caros e uma bela mulher, morena como sua mãe, de olhos claros como os de sua avó, que ele amava mais que sua própria vida, e que estava grávida do seu melhor amigo. Ele precisava ter a certeza de que as necessidades da empresa estariam satisfeitas após sua partida, e precisava de alguém para cuidar de tudo quando ele fosse embora, esse alguém foi seu melhor amigo, e consequentemente, a sua mulher amada e o filho deles.


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