quarta-feira, 19 de junho de 2013

Das formas de pegar a solidão e dançar.

"Tem coisa demais acontecendo, e tudo ao mesmo tempo."

Foi o que pensou e por isso se afastou do grupo e trocou o horário de almoço por um tempo sozinha. 

Escolheu a livraria mais próxima, aquela que havia passado tantos momentos na infância e no ensino médio. O único lugar no mundo onde ela se sentia completamente "encontrada" sem precisar justificar os porques, sem precisar pensar muito nas coisas, sozinha, com seus pensamentos, na companhia dos livros, era onde ela se sentia bem. Como uma última peça do quebra-cabeça que se encaixa perfeitamente.

Não pensava se alguém estranharia ao ver em seus braços a edição de bolso, em inglês do Hobbit, contrastando com Toda Poesia do Leminski.
Ela não sabia bem o que estava buscando, não sabia exatamente o que fora fazer ali, não pensava exatamente em comprar alguma coisa, apenas pensava em perder-se entre livros, para poder organizar os pensamentos difusos e confusos de todos aqueles dias.

Era claro que não estava nos seus melhores dias, estava calada, as descobertas dos últimos dias não haviam feito tão bem, eram coisas que já haviam passado e que a fizeram pensar na mentira que criaram pra ela, como uma marionete. Sentia-se um verdadeiro Frankstein, a criação revoltando-se contra o criador... e tantas outras coisas, tantos outros sentimentos que a estavam deixando maluca de tanto pensar sobre isso.

Lembrou-se, então, do tempo em que não conseguia ficar um segundo que fosse sozinha, ir a qualquer lugar sem companhia era uma tortura enorme. Foi depois que começou a viajar a cidade todos os dias, sozinha, sempre com algum livro, na rotina maluca entre, faculdade, trabalho, inglês e... agora lá estava ela, caminhando entre as prateleiras confortáveis da livraria, sorrindo sozinha, encontrando na solidão o remédio pra toda aquela confusão dos últimos dias, até que... perdido em uma prateleira qualquer, ela achou, aquilo que poderia ser (e certamente seria) a solução pra solidão, com 262 páginas, uma camiseta na capa e por apenas R$27,30, ficou em dúvida entre ele e a edição do Hobbit, que ainda não possuía e em língua estrangeira... NÃO, a Terra Média já havia feito o papel de salvadora da solidão a um tempo atrás e ainda faltava ler a trilogia, escolheu o desconhecido, após ler as orelhas do livro teve certeza... 

Era isso que estava faltando, era isso que precisava agora, o livro a tinha escolhido.

Passou no caixa, um moço simpático anotou o nome do livro, disse que compraria para uma amiga, sem saber a estava presenteando com a meia dúzia de palavras ditas entre alguns sorrisos tímidos. Saiu da loja cantarolando, mais calma, acendeu um cigarro e seguiu seu caminho, afinal aquilo tinha sido como "pegar a solidão e dançar".

Nenhum comentário: