Terça. Sete e meia da noite.
Luiza está cansada, psicologicamente e emocionalmente. Sente que estão duvidando da sua competência e maturidade. A pressão e a cobrança chegam a ser fora do normal, ela jamais passara por isso.
Sai do metro. Ipod descarregado, é obrigada a escutar a oscilação entre silêncio e barulho da caótica cidade poluída por sonhos, como a variação de luz e sombra num quadro gótico, ela vê as luzes dos carros enquanto espera o farol fechar.
A vida não está exatamente "no lugar" naquela noite, tudo parecia mais escuro, complexo, silencioso e caótico.
Luiza atravessa a rua meio desnorteada, sem perceber que o farol está vermelho para os pedestres, as imagens estão mais lentas, a vida passa por ela junto com seus pensamentos e torna tudo muito mais devagar.
Entra na padaria, pede um pão de queijo recheado e um chocolate quente, ambos enjoam o estômago dolorido, mas esquentam o coração, enquanto come, troca mensagens com um ou dois amigos.
Ao terminar, pega um pacote de balas Sckitle, um chocolate e uma água tônica, paga tudo no cartão e sai pela porta de vidro, tentando não esbarrar no senhor que fuma ao lado de fora da padaria.
Chega ao ponto de ônibus e vê muitas pessoas, normal para o horário o ponto estar meio cheio, mas como disse, nada está no lugar essa noite.
Luiza começa a escutar um som vindo de longe, um violino. Procura a pessoa que está produzindo esse som e se depara com um senhor, com idade e aparência de avô, parado em frente a escola de inglês na mesma calçada do ponto de ônibus e passa a observá-lo de longe.
Passam-se 5, 10 minutos, Luiza aproxima-se, continua observando, tentando conter as lágrimas.
No ponto, poucas pessoas reparam nele, Luiza sente-se meio incomodada com isso até perceber que o senhor do violino também não está ligando para seu público, para ele a única coisa que importa é a música que ele está tocando.
O ponto começa a se esvaziar aos poucos, uma última melodia calma e levemente melancólica começa a ser tocada, é uma despedida.
Luiza sente o vento em seu rosto e, cansadas de serem contidas lágrimas escorrem e aquecem o rosto gelado dela. O Senhor se aproxima com seu violino e pergunta:
"Você sabe como chama essa música?"
Sem conseguir falar, ela balança negativamente a cabeça.
"Ela se chama, "valsa da despedida", e é do filme "A ponte de Waterloo", é um filme antigo, da década de 20 acho, onde os soldados precisam defender a ponte e cansados dessa vigília, eles cantam essa canção em uníssono no fim do filme" e continuou "E, bem... eu estou tocando essa música porque eu estou indo embora."
Luiza desaba em lágrimas, não consegue mais falar nada, somente chorar o senhor ainda pergunta "porque você está chorando?"
Com a voz embargada ela tenta dizer "p-p-parte por s-s-saudade"
"Por favor, não chora, você é tão bonita, tão jovem, tem um futuro tão lindo pela frente, não chora" diz, aparentemente sem saber o que fazer "toma aqui meu lenço, ele ta limpo, seca suas lágrimas nele".
Luiza seca as lágrimas e sorri, devolvendo o lenço, o senhor termina de tocar a música, recolhe suas coisas, se despede da garota e vai embora, enquanto Luiza desaba, chorando uma mistura de desespero com felicidade e alívio, como se sentisse que depois disso os tempos fossem mudar.
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